quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Viagem

... o céu é o telhado azul do mundo inteiro...”, mas o de Lá é diferente. Meu egoísmo não me deixou apontar o céu pra ninguém. Quis apreciá-lo sozinha. Pude perceber várias constelações, mas só reconheci uma. Tudo que a gente vê no céu é passado. O sol que vemos com atraso, as estrelas que já se apagaram. Então quando olho, penso no passado também. Olhava pra aquelas constelações e não conseguia admirá-las direito, algumas cenas vinham na minha cabeça. Não que eu esperasse poder voltar pra revivê-las, mas pensava como queria que o futuro guardasse aquelas sensações pra eu viver mais tarde.
O estranho é que ninguém sabia onde era Lá. Como se fosse um lugar esquecido por Deus, eu olhava pela janela e tinha um mato alto, o céu preto, e as estrelas. Só. Mas vi lugares pareciam ser esquecidos pelo homem de tão belos.
Não precisei caçar minha própria comida na ilha. Não era igual Lost. Quando olhava pro mar tentando achar o horizonte, porém via o continente, me veio àquela pergunta de criança: “se você pudesse levar só uma pessoa pra uma ilha, quem levaria?” eu nunca entendia por que eu tinha que escolher só uma pessoa. Quando era pequena nunca respondia essas pergunta. Continuei sem responder.
O barco acompanhando o ritmo da marola me entristecia, porque a maioria das pessoas que eu queria que estivessem na ilha comigo, estavam longe, pensava nelas e sentia falta.
Parei pra pensar que sentir saudades é completamente diferente de sentir falta. Saudades a gente tem de algo que não volta e sentir falta, a gente sente de algo que é cotidiano.
Fiz tios novos pra sentir saudades. Quando estávamos no carro, felizes e rindo das piadas sem graça do Tio Roberto, pensei que logo aquilo acabaria, então parei pra reparar como me sentia, só pra recordar mais tarde. Tinha sono.
Quando chegamos à casa dos Casarotto (aquela parte da família que eu não faço parte), sentamos como em filme americano, todos na sala. De repente começou a novela e automaticamente treze pessoas pararam de falar e olharam para a TV. Eu fiquei com vontade de rir. Pra disfarçar olhei pro neném e ri. Mas mesmo que tivesse gargalhado, ninguém notaria.
Já ficou a beira da morte? Em todas às vezes dá a mesma sensação, ou sair logo ou morrer logo. Depois que saí da situação, eu pensei nas mesmas pessoas que pensei na ilha. Talvez a questão da ilha seja na verdade “quem você quer do seu lado antes de morrer?”.
Quis mudar meu caminho por pessoas que acabara de conhecer. Me arrependi de não ter mudado. Bateu saudade.
Sinto uma espécie de dor sempre que me sinto sozinha. Detesto isso. Quando tive a possibilidade de passar dias rodeada de pessoas legais, senti a necessidade de ficar sozinha com meus pensamentos, como se com pessoas por perto eles não fizessem sentido. Por isso demorava no banho e ia dormir mais cedo. 

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