domingo, 30 de janeiro de 2011

Ás vezes o tempo passa

Metade da cidade se calou!
Noites de verão são tão bonitas pra serem desperdiçadas, trocadas pela luz da cozinha acesa.

Hoje eu vi um menino negro no metrô, devia ter uns sete anos no máximo, ele tava olhando pra uma menina boliviana de um ano e alguns meses.
Ele sorriu e ela devolveu o sorriso.
Nesse instante eu não sabia o que me deixava mais interessada, a candura das crianças ao não se importarem com a etnia, de simplesmente quererem brincar uma com a outra.
Ou a maturidade nos olhos daquele garoto ao estar alerta para dar a sua vida pela da menina.
Lembro de quando eu tinha oito anos e cuidava da Maria Luíza, eu tinha tanta pressa pra crescer e ter minha própria filha... passou.
Hoje eu tenho certeza que temo o futuro pela incerteza que vem com ele.

Passei pela rua em que morei durante anos, nessas horas que a vida parece passar como um DVD na nossa mente. Olhei e reparei que nada mudou, eram as mesmas pessoas, a mesma chuva, a senhora que vende milho não envelhecera um ano e o senhor com problemas mentais ainda sobrevive de esmolas no mesmo farol.
Percebi que foi bom eu ter saído daquele lugar, acho que se ficasse lá não teria mudado como todo o resto. O engraçado é que quando me olho no espelho, não vejo uma formanda do ensino médio, vejo a garota de onze anos que quando voltava da escola dividia um guarda chuva com a mãe pra não tomar aquela chuva.

E a pressa pelo descanso morreu.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A primeira impressão é a que fica

O fabuloso destino de Amélie Poulain

Nunca havia assistido um filme de Jean-Pierre Jeunet, mas ao fazer algumas pesquisas, descobri é característico do diretor misturar realidade com fantasia, e isso fica bem claro em Amélie Poulain.

O filme conta a história de uma moça solitária que não sabe se relacionar muito bem com as pessoas, porém ela descobre um jeito de lidar com os outros: mexendo em suas vidas, com mínimos detalhes que fazem a diferença. É fabulosa a maneira como ela usa a imaginação e a observação para mudar o destino das pessoas.

O filme mostra como é fácil ser feliz com coisas simples, como afundar as mãos em grãos. É um dos aspectos mais interessantes do filme, o narrador apresenta cada personagem com coisas simples que gosta e que não gosta de fazer.
É característico do filme formar fotografias durante as cenas, um aspecto que dá uma beleza singela a ele.

Ele apresenta o amor de uma forma tão simples, tão verdadeira que fica fácil de acreditar que o amor pode ser inocente, que pessoas possam amar inocentemente.

O fabuloso destino de Amélie Poulain é um filme com uma ternura contagiante. Após vê-lo, realmente fiquei pensando no que é preciso para ajudar a vida de pessoas próximas ou não de nós. E realmente, não é preciso muito, só é preciso pensar como Amélie. 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Viagem

... o céu é o telhado azul do mundo inteiro...”, mas o de Lá é diferente. Meu egoísmo não me deixou apontar o céu pra ninguém. Quis apreciá-lo sozinha. Pude perceber várias constelações, mas só reconheci uma. Tudo que a gente vê no céu é passado. O sol que vemos com atraso, as estrelas que já se apagaram. Então quando olho, penso no passado também. Olhava pra aquelas constelações e não conseguia admirá-las direito, algumas cenas vinham na minha cabeça. Não que eu esperasse poder voltar pra revivê-las, mas pensava como queria que o futuro guardasse aquelas sensações pra eu viver mais tarde.
O estranho é que ninguém sabia onde era Lá. Como se fosse um lugar esquecido por Deus, eu olhava pela janela e tinha um mato alto, o céu preto, e as estrelas. Só. Mas vi lugares pareciam ser esquecidos pelo homem de tão belos.
Não precisei caçar minha própria comida na ilha. Não era igual Lost. Quando olhava pro mar tentando achar o horizonte, porém via o continente, me veio àquela pergunta de criança: “se você pudesse levar só uma pessoa pra uma ilha, quem levaria?” eu nunca entendia por que eu tinha que escolher só uma pessoa. Quando era pequena nunca respondia essas pergunta. Continuei sem responder.
O barco acompanhando o ritmo da marola me entristecia, porque a maioria das pessoas que eu queria que estivessem na ilha comigo, estavam longe, pensava nelas e sentia falta.
Parei pra pensar que sentir saudades é completamente diferente de sentir falta. Saudades a gente tem de algo que não volta e sentir falta, a gente sente de algo que é cotidiano.
Fiz tios novos pra sentir saudades. Quando estávamos no carro, felizes e rindo das piadas sem graça do Tio Roberto, pensei que logo aquilo acabaria, então parei pra reparar como me sentia, só pra recordar mais tarde. Tinha sono.
Quando chegamos à casa dos Casarotto (aquela parte da família que eu não faço parte), sentamos como em filme americano, todos na sala. De repente começou a novela e automaticamente treze pessoas pararam de falar e olharam para a TV. Eu fiquei com vontade de rir. Pra disfarçar olhei pro neném e ri. Mas mesmo que tivesse gargalhado, ninguém notaria.
Já ficou a beira da morte? Em todas às vezes dá a mesma sensação, ou sair logo ou morrer logo. Depois que saí da situação, eu pensei nas mesmas pessoas que pensei na ilha. Talvez a questão da ilha seja na verdade “quem você quer do seu lado antes de morrer?”.
Quis mudar meu caminho por pessoas que acabara de conhecer. Me arrependi de não ter mudado. Bateu saudade.
Sinto uma espécie de dor sempre que me sinto sozinha. Detesto isso. Quando tive a possibilidade de passar dias rodeada de pessoas legais, senti a necessidade de ficar sozinha com meus pensamentos, como se com pessoas por perto eles não fizessem sentido. Por isso demorava no banho e ia dormir mais cedo. 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Cara ou Coroa ?

Engraçado como a felicidade é temida. Aliás, não a felicidade em si, mas é temido o caminho até ela.
É como se fosse uma prova bizarra que você tem que passar pra no final ganhar um prêmio, onde no caminho tem várias curvas e obstáculos.
É como uma viagem, que pra chegar ao seu destino, há a possibilidade do avião cair, do barco afundar, do ônibus tombar ou do carro capotar.
Então nos deparamos com duas opções: ficar do jeito que está e procurar não esbarrar em ninguém, ou se aventurar sem ter tempo para o medo.
Mas será que vale a pena se arriscar por meros momentos de alegria que passarão?
Sempre que temos duas escolhas, as pessoas costumam dizer pra ouvirmos o nosso coração, o problema é que o meu é mudo.
Assim, quando vou pra janela ver a chuva e tentar entender alguma coisa, olho os prédios a minha volta e penso que em cada janela tem uma história. Já criei tantas histórias pra tantas pessoas que nem sabem que eu existo. Mas ás vezes eu penso se pode haver alguém que pense como eu.
E sabe aquela sensação quando você tá num lugar alto? Aquela vontade de pular?

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ano novo, blog novo

Eu não passei réveillon de branco. Acho tão pior cumprir uma tradição só pelo fato dela existir, em vez de inventar suas próprias tradições, por mais ridículas que elas sejam ou dar um novo significado para as antigas.
Mais do que falar com pessoas que você não fala há anos, pedir perdão ou ser obrigado a passar a virada com a família, eu acredito que o ano novo seja um momento pra você abraçar as pessoas que fizeram o seu ano valer a pena com um ar de “obrigada pelo que passamos esse ano, ano que vem tem mais”.  E com esse pensamento sobre o ano novo, posso dizer que o meu foi excepcional.